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Trajetória às porcelanas de Meissen

  • Foto do escritor: 2DESIGN
    2DESIGN
  • 24 de nov. de 2019
  • 5 min de leitura

Por Gabriela Rodrigues dos Santos

No início da organização industrial, Jean-Baptiste Colbert teve a ideia de criar um polo onde centralizasse toda espécie de oficinas fabricando artigos para mobiliar os edifícios reais para racionalizar essa produção e aumentar a hegemonia francesa na área. Esse sistema teve sucesso e sua fábrica de Gobelins conseguiu empregar muitos artesãos, atingindo uma produção muito maior que o normal para a época. Além disso, Colbert contratou o pintor Charles Le Brun para ser o diretor da fábrica e concedeu-lhe o papel de inventeur, ou seja, criava um projeto e desenho para servir de base para a produção das peças pelos mestres-artesãos nas oficinas. Isso foi um grande passo do ponto de vista do design, pois a partir disso consolidou-se a separação entre projeto e execução. Esse sistema de produção para a corte foi um grande exemplo, portanto “A idéia das manufaturas reais espalhou-se rapidamente para outros países. Um exemplo notável é a manufatura de cerâmica de Meissen na Alemanha, fundada em 1709, que foi a primeira a produzir porcelana na Europa.”  (CARDOSO, 2000, pg. 29).

A porcelana é uma invenção chinesa, portanto a execução de técnicas para a fabricação dessas peças era restrita a China desde o período neolítico e, por muito tempo, vários países tentaram reproduzir essas peças que eram consideradas símbolo de poder, bom gosto e status social, visto isso, eram caras consideravelmente, mesmo para os próprios imperadores chineses. A um certo momento da história os coreanos foram os primeiros depois dos chineses a conseguirem fabricar peças de porcelana e, quando isso aconteceu, os japoneses sequestravam artesãos para descobrir a fórmula. Sobretudo, foi na fábrica de Meissen que houve um grande destaque. A porcelana era desejo incessável de ricos e nobres da Idade Média, mas foi Augusto II, O Forte (1670 – 1733), eleitor de Saxônia (mais tarde Alemanha) e rei da Polônia, com sua grande paixão pelas peças decorativas que descobriu uma fórmula bem parecida com a dos chineses. Augusto II contratou alquimistas para essa função de descoberta, e foi o matemático e cientista Ehrenfried Walther von Tschirnhaus (1651 – 1708) que percebeu que a mistura de terra fina e cinzenta das minas de Kolditz (o calium), alabastro calcinado e feldspato resultaria na tão desejada fórmula da porcelana chinesa em 1708. Após a morte prematura de Ehrenfried, o alquimista e químico da corte alemã de Dresden, Johann Friedrich Böttger (1692-1719) deu continuidade a esse trabalho de descoberta por incentivo de Augusto II. Böttger cozeu a pasta entre 1300°C e 1400°C durante um período de doze horas seguidas, que é um processo pouco comum com esses materiais, mas foi isso que levou ao sucesso da execução da primeira peça de porcelana em solo europeu. Em 28 de Agosto de 1709, Böttger envia a Augusto II essa peça e anuncia a invenção do “ouro branco”. Em função desse sucesso, o químico que tinha um laboratório na baixa Saxônia, no Castelo de Albreschtsburg, fundou a primeira fábrica de porcelanas na Europa, na cidade de Meissen. A descoberta continuou sendo um segredo e era partilhada apenas com alguns empregados que tinham acesso à fórmula e todos os processos, mas esses empregados acabaram difundindo a fórmula mais tarde, influenciando posteriormente algumas manufaturas europeias surgidas em Viena, Veneza e Nápoles, e criando mais fábricas, entretanto, a fábrica de Meissen continuava sendo destaque com toda sua inovação.


Chinês nobre da colagem de Meissen prato de jantar


As porcelanas eram exclusivas da corte pois eram peças caras e de status. Augusto II, com sua grande paixão pelas porcelanas, encomendou o primeiro projeto das peças em jarros para o artista Johann Jakob Irminger. Mas nem sempre essa manufatura ficou restrita somente a realeza, como diz Cardoso: “Criados inicialmente para atender à demanda da corte, os produtos de Meissen passaram a ser consumidos cada vez mais pela classe média emergente e acabaram atendendo também a novos mercados estrangeiros.” (CARDOSO, 2000, pg. 29) a partir de 1713, encantando toda a Europa.

“Seguindo o exemplo de Gobelins, a fábrica de Meissen também empregava artistas para projetar as peças que produzia.” (CARDOSO, 2000, pg. 29). Por volta de 1720, excelentes artistas foram atraídos por essa manufatura, pois desejavam produzir peças com seus trabalhos e criações. Dentre eles, o primeiro a se destacar foi Johann Gregorius Höroldt (1696 – 1775) que ficou responsável pela pintura das peças. Nesse mesmo ano, Höroldt chega ao cargo de diretor e introduz as cores vivas que valorizaram ainda mais as porcelanas de Meissen. A paleta de cores que são colocas ainda sobre a pasta foi de sua criação e, devido à alta qualidade, são usadas até os dias de hoje, definindo, assim, o estilo europeu de pintura da porcelana nas próximas décadas.


O edifício contemporâneo é a porta de entrada para os visitantes na Meissen. Imagem: Shoichi Iwashita


A fábrica de Meissen foi muito importante em relação aos avanços da manufatura do “ouro branco”, ela se espalhou para o restante do mundo e faz sucesso até os dias atuais. Para o design pode-se considerar, também, que foi um grande avanço, pois despertou a curiosidade de vários artesãos para esse serviço e os tornou membros de muita importância na fábrica, fazendo com que se consolidasse um modelo de produção e execução excelente. Como cita no texto do Portal da Arte escrito por José Márcio Viezzi Molfi, vários nomes de artesãos “construíram” Meissen, como: “Ehrenfried Walther von Tschirnhaus, inventor da porcelana européia; Johann Friedrich Böttger, introduziu o processo da manufatura de porcelana; Heinrich Gottlieb Kühn, inventor do processo de cores; Friedrich August Köttig, inventor do conhecido “azul de Meissen”; Johann Joachim Kändler, artista famoso e modeleur de excepcionais figuras; Johann Gregorius Höroldt, pintor de porcelana, inventor dos corantes para a porcelana; Camillo Marcolini, político e diretor de produção”. É importante lembrar que, segundo Cardoso, “O sucesso de Meissen foi tamanho que a França acabou fundando a sua própria manufatura real de louças, estabelecida inicialmente em 1738 e transferida após alguns anos para Sèvres, denominação sob qual atingiu um êxito comercial enorme.”, tornando-a em uma concorrente em potencial para Meissen, mas mostra como essa manufatura tem um potencial gigantesco e como funcionou bem no processo de produção com os designers.


Durante a visita à fábrica, é possível acompanhar os artesãos trabalhando. Imagem: Shoichi Iwashita


 

Referências


 

Ficha Técnica

Texto desenvolvido por Gabriela Rodrigues dos Santos para a disciplina Introdução ao Estudo do Design - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Departamento de Artes - Bacharelado em Design - Novembro de 2019. O texto colabora com o projeto de extensão “Blog Estudos sobre Design”, coordenado pelo Prof. Rodrigo N. Boufleur ( http://estudossobredesign.blogspot.com ).

 
 
 

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