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A influência do fator design na sociedade no início do Industrialismo

O industrialismo foi um sistema que afetou a vida das pessoas e é objeto de estudo até hoje. Esse post tem objetivo de analisar rapidamente como esse fenômeno histórico no design aconteceu e quais foram os escritores e pensadores do assunto na época.

“Até aqui, tem se falado quase que exclusivamente no design como reação às grandes mudanças provocadas pela industrialização; porém é evidente que o campo possui um potencial bem além da dimensão reativa.” (CARDOSO, 2000, p. 76).

Segundo Cardoso (2000), o industrialismo trouxe consigo muitos desafios e problemas logo no início da implementação e que é considerável que a resistência ao capitalismo industrial tenha nascido juntamente com o sistema propriamente dito, e também que a partir daí o design rapidamente passou a ser visto como uma área fértil para a instalação de medidas reformistas.

Cardoso (2000) diz que primeiramente, o entendimento de oposição anti-industrial tinha relação com a ruptura das relações de hábitos, de costumes de vida e trabalho, que era imposta pelas fábricas recém-chegadas e pela mecanização da produção industrial. Nomes como William Blake, Thomas Carlyle e Samuel Taylor Coleridge, grandes pensadores do Romantismo, denunciaram em seus escritos sobre a brutalidade do industrialismo em explorações aos trabalhadores, sobre a destruição da paisagem natural e sobre a vida social ter se reduzido ao mínimo múltiplo comum da troca econômica.

Não há como duvidar que a industrialização era percebida por muitos como uma ameaça ao bem estar comum e aos valores mais elevados da sociedade, e foi justamente no entrecruzamento das críticas sociais e morais ao industrialismo que nasceram as primeiras propostas de fazer uso do design como agente de transformação. (CARDOSO, 2000, p. 76)

O padrão do bom gosto e dos padrões morais, para alguns entrou em decadência na medida que a abundância de mercadorias baratas passou a ser difundida em larga escala, pois com isso, foi invertido o senso de abundância relacionado ao conforto, luxo e progresso alcançados pela fartura industrial.

Ao mesmo tempo que a nova fartura industrial ampliava as possibilidades de consumo para a multidão, para alguns ela gerava preocupações inéditas sobre a natureza do que era consumido. Já na década de 1830 surgem na Inglaterra as primeiras manifestações daquilo que viria a ser um fenômeno constante na história do design: os movimentos para a reforma do gosto alheio. (CARDOSO, 2000, p. 77)

Entre os reformistas responsáveis pelo movimento internacional de recuperação dos princípios e das reformas da arquitetura gótica, está o grande arquiteto A.W.N. Pugin, precursor do movimento e conhecido como Gothic Revival, pois defendia a recuperação das formas construtivas que foram reveladas nas formas do período medieval.



Pugin

Pugin lançou conteúdos reivindicando a volta ao que ele considerava como princípios verdadeiros de pureza e honestidade no design e também na arquitetura, evidenciando regras: duas, basicamente. A primeira era que as construções deveriam se limitar aos elementos fundamentais para a comodidade e a estrutura. A segunda, que os ornamentos se ativessem ao enriquecimento dos elementos construtivos.

Movido pelo zelo e fervor do convertido, ele produziu uma quantidade imensa de projetos arquitetônicos e de design de mobiliário, cerâmica, livros, jóias, prataria, vitrais, têxteis e outros objetos, até a sua morte aos quarenta anos de idade (ATTERBURY & WAINWRIGHT, 1994 apud CARDOSO, 2000, p. 77).

Inspirados pelas ideias de Pugin, Cardoso (2000) afirma que em Londres, no final da década de 1840, organizaram-se outro grupo de reformistas, que estavam entre seus seguidores o arquiteto Owen Jones, o pintor Richard Redgrave e o burocrata Henry Cole.

Preocupados com o que consideravam o mau gosto vigente, o grupo empreendeu uma série de iniciativas para educar o público consumidor, dentre as quais a publicação de uma das primeiras revistas de design, o Journal of Design and Manufactures, e do livro de Jones intitulado The Grammar of Ornament, de 1856, talvez um dos mais influentes tratados sobre teoria do design de todos os tempos. (CARDOSO, 2000, p. 77)

Jones em seu livro, determina 37 proposições que tem como objetivo definir princípios gerais para o arranjo da forma e da corno design e também tenta demonstrar a aplicação histórica por meio de análise de ornamentos de diversos povos, desde a Antiguidade até o Renascimento, segundo Cardoso (2000). Apesar disso, não eram todos os reformadores que concordavam com o modo de impor as pessoas um padrão de design como forma de solucionar todos os males que a industrialização estava trazendo para a sociedade. O crítico e educador John Ruskin, embora concordasse com o gosto pelo estilo gótico de Ruskin, acreditava que o principal responsável pelas deficiências dos projetos e da estilística é o modo da organização do trabalho, inclusive, que não era o mau gosto do público consumidor que resultava a má qualidade, mas a desqualificação sistemática e a exploração do trabalhador que produzia a mercadoria. Não adiantava aperfeiçoar os projetos a serem executados sem recompor todo o sistema de ensino e de fabricação, para que todos atingissem um padrão aceitável de satisfação e prazer no trabalho; [...] (ANTHONY, 1983:72-74, 148-159; RUSKIN, 2004: 7-22 apud CARDOSO 2000: 79).

O designer e escritor inglês William Morris iniciou a uma série de empreendimentos comerciais que divulgariam a importância do design de forma inédita. Influenciado por Ruskin,da ideia de que a qualidade do objeto em si deveria demonstrar tanto a unidade de projeto e execução do produto quanto o bem-estar do trabalhador. Morris e seus sócios abriram uma firma em 1861, produziram objetos decorativos e utilitários, como móveis, tecidos, tapetes, papéis de parede, vitrais e azuleijos e tiveram sucesso na área de decoração de igrejas, interiores domésticos e também de edifícios públicos através de estratégias que visava alta qualidade e bom gosto dos produtos e serviços. Por causa disso, o nome de Morris estava associado ao bom resultado de seu trabalho e os consumidores que se identificava com sua visão, estavam dispostos a pagar o maior preço. Ele foi o primeiro designer a apostar sua permanência no mercado com esse conceito de que o consumidor pagaria mais caro para ter o melhor. Ele teve grande repercussão mundial e seu estilo se inseriu no contexto do movimento Arts and crafts.










Detail from a season ticket for The Arts Crafts Exhibition Society, Walter Crane, 1890

“Talvez a contribuição mais duradoura desses movimentos reformistas tenha sido a ideia de que o design possui o poder de transformar a sociedade e, por conseguinte, que a reforma de padrões de gosto e de consumo poderia acarretar mudanças sociais mais profundas” (CARDOSO, 2000, p. 76).



 

Referência


DENIS, Rafael Cardoso. Uma introdução à história do design. São Paulo: Edgard Blücher, 2000.


Detail from a season ticket for The Arts Crafts Exhibition Society, Walter Crane, 1890 in: https://www.tuttartpitturasculturapoesiamusica.com/2012/06/arts-and-craft-movement-1850-1900.html (acesso em 27/11/2019)


Pugin



Ficha Técnica


Texto desenvolvido por Raliane Nascimento da Silva Bezerra para a disciplina Introdução ao Estudo do Design - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Departamento de Artes - Bacharelado em Design - Novembro de 2019. O texto colabora com o projeto de extensão “Blog Estudos sobre Design”, coordenado pelo Prof. Rodrigo N. Boufleur ( http://estudossobredesign.blogspot.com ).

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