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O surgimento do design a partir das transformações dos meios de produção na Revolução Industrial

Atualizado: 28 de nov. de 2019

A Revolução Industrial teve grande relevância para a sociedade atual e principalmente para o surgimento da evolução tecnológica vivida até os dias atuais. Tendo se iniciado na Europa, entre os séculos 18 e 19, a partir daí as máquinas foram dominando o processo de produção de tal forma que é praticamente impossível imaginar a vida sem elas.


O design passa a ter mais sentido com a existência das máquinas, possibilitando maior multiplicação dos artefatos, poupando tempo e racionalizando, deste modo, os recursos existentes. As máquinas trouxeram maior diferenciação entre design e artes, já que o primeiro procura resolver problemas no meio social e o segundo é, geralmente fonte de deleite do apreciador e expressão sentimental do seu autor.


Entretanto, pode-se dizer que muitos acontecimentos possibilitaram um cenário favorável ainda na Idade Média: a consolidação do Estados Nacionais europeus, centralização política, transferência do comércio para o Atlântico, competição entre as nações pelos mercados e investimento nos bens de consumo, tudo isso fez os Estado europeus investirem nas manufaturas reais, possibilitando mudanças nos meios de produção.

Uma dessas mudanças foi a separação entre a idealização e a execução dos projetos e, durante esse processo, um profissional vai se firmando: o designer, que era pago para projetar as peças que seriam produzidas pelos operários.


“... a separação entre design e processos de fabricação surgiu, na verdade antes da Revolução Industrial, com a evolução do final da Idade Média para o início da organização industrial capitalista baseada em métodos artesanais de produção. ” (HESKETT, pg 11)


“A expansão do comércio e o aumento das unidades comerciais criaram pressões competitivas que, por sua vez, levaram a uma demanda de inovação e de algum traço ou aspecto característico de artesania que diferenciasse um produto e atraísse o interesse do consumidor. ” (HESKETT, pg 11)

Como exemplos de fábricas que emergiram nessa época tem-se a de Gobelins, na França (1667) e Meissen na Alemanha (1709) e indústrias de iniciativa privada, a de Josiah Wedgwood na Inglaterra.


Na fábrica de Gobelins, o pintor Charles Le Brum criou uma espécie de polo que centralizava toda espécie de oficinas fabricando artigo para mobiliar edifícios reais, racionalizando a produção e empregando centenas de artesãos. Le Brum era o criador das coisas a serem fabricadas pelos artesãos, existindo assim, uma separação plena entre projeto e execução.


Batalha de Zama a partir de uma arte de Jules Romain, para Luis XIV em 1688-1690 (Louvre)


Com a ideia das manufaturas reais se espalhando, a fábrica de Meissen, que foi a primeira a produzir porcelana na Europa, atendia as demandas reais, depois a uma classe média emergente e também atendia mercados estrangeiros criou uma série baseada nas gravuras de Jacques Callot (figuras de Callot) usadas como referência para modelos de figuras, motivos decorativos e detalhes.


A partir do século 18 começaram a surgir na Europa industrias de iniciativa privada como a fábrica de Josiah Wedgwood, um dos casos mais notáveis na evolução industrial no século 18. Pautado em fatores tecnológicos e comerciais, Wedgwood deu atenção redobrada ao papel do design no processo produtivo com a colaboração do desenhista John Flaxman que produzia os desenhos que seriam executados nas fábricas. As inovações de sua fábrica tiveram efeito radical no processo do design, pois a precisão dos moldes criados colocava a responsabilidade do projeto nas mãos dos designers, fazendo do operário um mero executor.

Porcelanas de Meissen


“Assim, por volta de 1750 já era comum nas fábricas de cerâmica o emprego de profissionais responsáveis apenas pela configuração formal das peças que seriam produzidas por operários”. (CARDOSO, pg 31).


Nesse cenário, o designer assume outros valores, entre eles, o de parte essencial do processo de produção, oferecendo vantagens como maior aceitação comercial, resultando em aumento de vendas e centralização das etapas decisivas do projeto.


“Os designers ganhavam prestígio e recebiam mais que o artesão, o que garantia peças com maior aceitação e centralizava o controle nas partes mais decisivas do processo produtivo ”. (CARDOSO)


As vantagens não foram somente para os designers, com a separação das etapas de produção houve economia de tempo, dinheiro, maior controle da mão de obra e não havia necessidade de muitos trabalhadores especializados, bastava um bom designer para o projeto e um bom gerente para supervisão e muitos operários sem qualificação que eram compensados com baixos salários. Mesmo com o aumento do valor dos projetos, o empresário pagaria apenas uma vez para adquiri-lo e a possibilidade de reprodução era ilimitada.


Quando, no século 19, a Revolução Industrial toma impulso, a separação entre design e produção se torna mais acentuada, a mecanização passou a ser idealizada de modo que se pensava em tirar toda a execução do trabalho das mãos dos operários e entrega-los às máquinas.


Na transição das oficinas para as fábricas, várias mudanças foram observadas: contratação de designers, gerentes, supervisores de produção e operários para as máquinas; o processo de automação retirou a execução das pessoas, mas foi demorada, desigual e incompleta. Os designers lucravam, pois a possibilidade de algo exclusivo e o valor monetário do projeto agregavam valor ao produto.


“Quem lucrou com a mecanização foi a categoria incipiente dos designers. A medida em que a produção se mecanizava, o valor monetário dos projetos ia aumentando”. (CARDOSO, pg 35)


Na indústria têxtil, por exemplo, o custo de gerar ou adquirir um padrão era único, e feito por apenas um bom designer, podendo, assim, ser reproduzido ilimitadamente. Daí surge a preocupação com a pirataria, levando a uma modificação nas leis de patentes e de copyright na Grã-Bretanha entre 1830 e 1860. Ou seja, o designer podia valer muito, mas seu valor dependia do segredo e exclusividade como instrumentos de vantagem comercial.


Durante o processo de industrialização foi se moldando uma nova ordem social e econômica: estradas de ferro, navegação a vapor, telégrafo, fotografia e outras inovações alteram totalmente as perspectivas de distribuição de mercadorias e informações, pela primeira vez na história havia a possibilidade de um mercado mundial.


O design teve seu papel nessa reconfiguração da vida social, contribuindo para projetar a cultura material e visual da época, deixando clara a ponte existente entre design e o processo de Revolução Industrial, pois seria difícil de imaginar, hoje um design isento de máquinas ou projetos executados sem intervenção industrial.



Referências bibliográficas

CARDOSO, Rafael Uma Introdução à História do Design. São Paulo: Ed. Blucher, 2008, 3.a ed. P. 26 a 46.

HESKETT, John. Desenho Industrial. Brasília: José Olympio, 1998. P. 10 a 26.


Texto desenvolvido por Andreia Maria de Medeiros para a disciplina Introdução ao Estudo do Design – Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Departamento de Artes – Bacharelado em Design – Novembro de 2019. O texto colabora com o projeto de extensão “Blog Estudos sobre Design”, coordenado pelo Prof. Rodrigo N. Boufleur (http://estudossobredesign.blogspot.com).

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