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Revolução Industrial e as mudanças no sistema fabril

O processo conhecido por Revolução Industrial teve início na Europa durante os séculos XVIII e XIX. Ao contrário do que muitos acreditam, aconteceu em momentos diferentes nos países europeus. E em áreas diferentes da industrialização.

Conforme Eric Hobsbawm “O termo se refere essencialmente à criação de um sistema de fabricação que produz em quantidades tão grandes e a um custo que vai diminuindo tão rapidamente que passa a não depender mais da demanda existente, mas gera o seu próprio mercado.” (HOBSBAWM apud CARDOSO, 2010, pg. 27). Antes da industrialização muitos produtos eram feitos por encomenda, outros eram produzidos em pequena escala devido a lentidão nos processos. Após a inserção das máquinas no sistema fabril os processos foram otimizados, tarefas que demoravam dias passaram a ser executadas em horas. Apesar da mecanização não ter ocorrido tão rápido, a inclusão de uma máquina em um sistema produtivo totalmente manual já mostrava grandes avanços. Houve a partir de então um aumento significativo na oferta por produtos, o que gerou necessidades de consumo não conhecidas antes. Esse conjunto de processos levou à ampliação do mercado e a novos ciclos de comércio.

Dentre os setores que mais se destacaram durante a mecanização está a indústria têxtil. As máquinas possibilitaram um grande aumento na produção de tecidos e estampas, e posteriormente na confecção de roupas. Fato explicitado por Cardoso no trecho, “A mecanização do trabalho é o outro grande fator que define a industrialização, e uma série de inovações tecnológicas entre o final do século 18 e o início do século 19 foi permitido o aumento constante da produtividade na indústria têxtil a custos cada vez menores em função da rapidez da produção e da diminuição da mão de obra” (CARDOSO, 2010, pg. 27). O trabalho que antes era feito por artesãos passou a ser produzido em larga escala pelas fábricas, com o auxílio de máquinas. A redução nos custos a que o texto se refere está ligada diminuição da necessidade de funcionários, principalmente os qualificados. Foi nesse momento da economia que começou a se destacar o trabalho dos designers. Esses produziam diversas estampas que eram “impressas” por máquinas. As empresas substituíram vários artesãos ou desenhistas e contrataram operários que trabalhavam a baixos custos, apenas replicando o que era desenvolvido pela equipe de criação das fábricas.








O avanço tecnológico trouxe benefícios para os empresários e preocupações aos artesãos. Muitos perderam o emprego ou tiveram a remuneração reduzida drasticamente devido a inserção das máquinas no processo produtivo. Já para os empresários as modificações foram positivas, pois os lucros aumentaram e novos mercados surgiram, incluindo importação e exportação.

Alguns atribuem parte da perda de espaço dos artesãos a uma crise na organização do trabalho. Cardoso dispõe sobre isso, “O declínio do poder político das antigas Guildas de artesãos (ou, corporações de ofício) foi um fator imprescindível, pois a extrema divisão de tarefas característica do trabalho industrial só foi possível devido ao desmantelamento sistemático das tradicionais habilitações e privilégios que protegiam o artesão livre.” (CARDOSO, 2010, pg.32). Os artesãos andavam na contramão da industrialização, até então eram protegidos por lei, mas as “Guildas” não sobreviveram a industrialização. A desorganização dessas acabou por facilitar a introdução não só da divisão do trabalho como também planejamento e execução. Foi uma mudança tecnológica e social, a forma de trabalhar foi alterada. Até o início do século 18 a mesma pessoa fazia determinado produto do início ao fim, a revolução industrial trouxe o pensamento focado na separação de tarefas e na especialização dela. Os funcionários estavam tão capacitados para determinado serviço que o faziam cada vez mais rápido, é como a cena épica do filme “Tempos Modernos” de Charles Chaplin em que o jovem operário tem como função apenas apertar parafusos. Era exatamente isso que os empresários queriam produzir e vender, o máximo possível, a custos mais baixos e lucrando mais.

Nesse contexto histórico não havia espaço para os trabalhadores manuais. Alguns grupos defendiam os artesãos como criadores de artefatos diferenciados, específicos a necessidade do cliente. As fábricas produziam o que todos possuíam, mas apenas os artesãos produziriam bens distintos, individuais. Focaram em clientes que queriam se sobressair a maioria, que buscavam produtos únicos ou pouco repetidos, normalmente os de maior poder aquisitivo que procuravam se destacar na sociedade.

Durante o século 19 a industrialização se expandiu pelo mundo, atingindo países como os Estados Unidos e até o Brasil. Cresceu também em outros setores como a indústria bélica (marinha) por exemplo. Alguns pensadores defendiam a “industrialização total”, um sistema em que as máquinas trabalhariam sozinhas, não seria necessário mão de obra para operá-las. Mas o que funcionou e ainda é o que vivemos na atualidade coincide com o que retrata Cardoso no trecho, “Em vez de contratar muitos artesãos habilitados, bastava um bom designer para gerar o projeto, um bom gerente para supervisionar a produção e um grande número de operários sem qualificação nenhuma para executar as etapas, de preferência como meros operadores de máquinas.” (CARDOSO, 2010, pg. 34)



A revolução industrial ditou as regras que seguem os países capitalistas até hoje. As empresas têm tarefas bem divididas. Nas posições de destaque os designers entre outros profissionais planejam o que será produzido, porque e para quem. Supervisores coordenam a execução dos processos e aos operários cabe apenas executar atividades específicas que muitas vezes se resume a operar uma máquina de corte ou conferir a embalagem. Na maioria dos casos não conseguem ver o processo produtivo do início ao fim e talvez nem saibam exatamente o que estão executando. Esse sistema é utilizado nos mais diversos setores da economia atual, nas grandes e pequenas empresas, seja de produção e/ou venda de produtos ou prestação de serviços. Criou-se um sistema hierarquizado em que toda entidade financeira, independente do porte, possui uma pirâmide com cargos e funções, no topo estão os profissionais mais qualificados, na base os menos (operários), e no meio os de conhecimento intermediário que servem de ligação entre os operários e a diretoria. Dessa forma, como no início da revolução industrial a mentalidade empresarial permanece.


Renata Macedo

 

Referências

· DENIS, Rafael Cardoso. Uma introdução à história do design. São Paulo: Edgard Blücher, 2000.

 

Ficha Técnica

Texto desenvolvido por Renata Celi de Morais Macedo para a disciplina Introdução ao Estudo do Design - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Departamento de Artes - Bacharelado em Design - Novembro de 2019. O texto colabora com o projeto de extensão “Blog Estudos sobre Design”, coordenado pelo Prof. Rodrigo N. Boufleur ( http://estudossobredesign.blogspot.com ).

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