A influência do Estado no processo de industrialização da Europa e Estados Unidos da América
- 2DESIGN
- 23 de nov. de 2019
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Atualizado: 27 de nov. de 2019
Por Fernanda de Sena Silva
A Revolução Industrial, que ocorreu entre o fim do Século XVIII e o começo do XIV, foi consequência de uma série de fatores econômicos, sociais e políticos que remontam ao Século XVI. Essa, definida como “Sistema de fabricação que produz em quantidades tão grandes e a um custo que vai diminuindo tão rapidamente, que passa a não depender mais da demanda existente, mas gera seu próprio mercado.” (CARDOSO, 2000, pg. 26).
Nesse período, a expansão marítima de vários países Europeus criou rotas comerciais no Oceano Atlântico. Devido à complexidade do comércio naval, que requeria uma organização que envolvesse um investimento no desenvolvimento de tecnologias, construção de navios, contratação de pessoal, e compra de produtos, essa expansão só foi possível após a formação de Estados-Nacionais e a centralização do poder nas mãos do rei com o apoio da Burguesia.
Só após esse período, houve um acúmulo de capital e uma estrutura suficientes, para o desenvolvimento da indústria. Como cita Cardoso em seu livro Introdução a História do Design ”Houve um grande crescimento no acúmulo de riqueza líquida ao longo dos cem anos anteriores e, portanto, um acréscimo correspondente no consumo. Pode-se dizer que no século XVIII já existia em alguns países da Europa senão uma sociedade de consumo, pelo menos uma classe consumidora numerosa, que detinha forte poder de compra e que já começava a exigir bens de consumo mais sofisticados. E é nesse mercado de artigos de luxo que se encontram os primórdios da organização industrial.” (CARDOSO, 2000, pg. 27).
Da mesma forma que os Estados-Nacionais proporcionaram as condições para a expansão marítima, esses também foram os primeiros investidores da Indústria. Com a criação de manufaturas reais, incumbidas de produzir, em sua maioria, artigos de luxo para a corte, essas foram o berço das divisões de trabalho, da separação entre projeto e produto e outras características que hoje são intrínsecas a organização industrial “Quase todos os países europeus fundaram nos séculos 17 e 18 manufaturas reais, ou da coroa, (...) Porém, as primeiras manufaturas a serem assim monopolizadas foram as de fabricação de armas e de construção naval, indústrias estratégicas para garantir a própria sobrevivência do estado-nação.”(CARDOSO, 2000, pg. 28).
Como exemplo de manufaturas reais, tem-se a Fábrica de Gobelins, fundada na França em 1667 no reinado de Luís XIV, conhecido como Rei Sol, e tinha como superintendente de construções Jean-Baptiste Colbert. Empregou centenas de artesãos e apresentava na sua grade de funcionários o cargo de inventeur, que tinha um papel parecido com o que o designer tem atualmente, visto que esse projetava os objetos que iriam ser produzidos nas oficinas, o inventeur da Fábrca de Gobelins era Charles Le Brun.
"Luis XIV visita a Manufatura de Gobelins", (1667), tapeçaria Gobelins criada por Le Brun, a peça possui 3,70m de altura por 5,76m de largura.
Outra manufatura real importante era a de Meissen fundada na Alemanha em 1709 que expandiu sua produção não só a itens da realeza, mas para a classe média emergente, essa foi a primeira a produzir porcelana na Europa, visto que a porcelana antes era comprada na Ásia. Chegou a vender produtos para outros países, sendo a Turquia um desses. E, como em Gobelins, apresentava diferenciação entre projeto e produção.
Outras manufaturas privadas como as de Wedgwood surgiram por toda a Europa, mas setores estratégicos como o bélico e o naval foram monopolizados pelos Estados, devido à importância desses para a manutenção da soberania de cada nação. Pode-se afirmar então que o papel do Estado no desenvolvimento da indústria foi crucial, pois esse tinha o capital e a autoridade para direcionar os produtos produzidos e a organização de acordo com a necessidade da coroa, além de ser o iniciador do processo de industrialização de vários países.

Figuras por Jacob Ungerer: jardineira com cão, guardadora de gansos, senhora com gato, 1902. (produzidas na manufatura de Meissen)
“Nestes tempos privatizantes, afirma-se com certa frequência que fabricar ‘não é função do estado’. Por trás dessa afirmação está a premissa de que a produção industrial seria uma atribuição natural do setor privado, a qual teria sido usurpada pelo estado moderno em nome de um nacionalismo equivocado. Nada poderia ser mais distante dos fatos” “Do ponto de vista histórico, a produção industrial vem sendo exercida continuamente por estados nacionais desde o início da industrialização. A bem da verdade, pode-se dizer que a indústria, na acepção moderna da palavra, é mesmo uma invenção do setor estatal”. (CARDOSO, 2000, pg. 28)
No Brasil, a industrialização chegou de forma tardia, já que o país sempre teve como foco o desenvolvimento agrícola, mas pode-se perceber como o Estado foi imprescindível para sua consolidação. No governo de Getúlio Vargas, com o acúmulo de capital Geraldo pela produção de café, foi construída a CSN Companhia Siderúrgica Nacional, a Companhia Vale do Rio Doce e o Conselho Nacional do Petróleo além indústrias de base e infraestrutura como ferrovias rodovias e portos, necessárias para escoar a produção e a Comapnhia Hidrelétrica do São Franscisco, fazendo com que esse período seja considerado a revolução industrial brasileira. Mais tarde, ele fundaria a Petrobrás mudando o cenário do petróleo Brasileiro.
Já no governo de Jucelino Kubitschek, foi definido um plano de metas que tinha como foco o investimento na energia e transporte, visto que a insuficiências desses limitava o desenvolvimento industrial, outra medida era a atração de capital estrangeiro por meio de incentivos fiscais. Durante a ditadura militar, o governo investiu na infraestrutura, possibilitando a entrada de mais indústrias da iniciativa privada no mercado brasileiro, pode-se perceber, logo, que mesmo com um alto índice de indústrias privadas, essas foram viabilizadas devido ao direcionamento de investimento do Estado em indústrias estratégicas para dar o suporte necessário a esse desenvolvimento.
Pode-se citar como exemplos também, os investimentos feitos durante o governo de Hitler na Alemanha que a fez sair de uma posição de crise pós derrota na 1ª Guerra Mundial a um importante polo industrial, entre os citados durante todo o texto. Logo, pode-se perceber que tanto no caso do nosso país, como no mundo, em geral, o papel do Estado no desenvolvimento industrial se faz necessário, pois esse dispõe de recursos de todos os contribuintes, sendo assim, mais forte que a iniciativa privada e podendo fazer grandes investimentos em setores estratégicos.
Referências
DENIS, Rafael Cardoso. Uma introdução à história do design. São Paulo: Edgard Blücher, 2000
Wikipedia, "Luis XIV visita a Manufatura de Gobelins", (1667), tapeçaria Gobelins criada por Le Brun, a peça possui 3,70m de altura por 5,76m de largura. In: https://pt.wikipedia.org/wiki/Manufatura_dos_Gobelins#/media/Ficheiro:Charles_Le_Brun_-_Louis_XIV_Visiting_the_Gobelins_Factory_-_WGA12552.jpg (acesso em 20/11/2019)
Wikipedia, Figuras por Jacob Ungerer: jardineira com cão, guardadora de gansos, senhora com gato, 1902. (produzidas na manufatura de Meissen). In: https://pt.wikipedia.org/wiki/Porcelana_de_Meissen#/media/Ficheiro:3figurae.jpg (acesso em 20/11/2019)
Wikipedia, História da Industrialização no Brasil. In: https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_industrializa%C3%A7%C3%A3o_no_Brasil (acesso em 20/11/2019)
Ficha Técnica
Texto desenvolvido por Fernanda de Sena Silva para a disciplina Introdução ao Estudo do Design - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Departamento de Artes - Bacharelado em Design - Novembro de 2019. O texto colabora com o projeto de extensão “Blog Estudos sobre Design”, coordenado pelo Prof. Rodrigo N. Boufleur (http://estudossobredesign.blogspot.com).
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